

Para evidenciar a complexidade das interações fungos, plantas e insetos, Marvin Mateo Pec Hernández, engenheiro agrônomo formado pela Universidad de San Carlos de Guatemala e doutorando em Entomologia, pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), se debruçou na ideia de que certos fungos entomapatogênicos, além de combater pragas, também poderiam atuar como indutores de defesas como se fosse uma verdadeira vacina para as plantas.
“Na cana-de-açúcar, ainda se compreende pouco o impacto desses fungos sobre as defesas químicas e sobre as interações com herbívoros e inimigos naturais”, explicou o pesquisador. Foi justamente essa lacuna que motivou o engenheiro agrônomo a realizar o projeto que busca avaliar o potencial do fungo endofítico entomopatogênico Metarhizium robertsii, para melhorar as defesas da cana-de-açúcar, medindo níveis de fitormônios, emissões de compostos orgânicos voláteis e atração olfativa dos inimigos naturais como a vespa Cotesia flavipes e à tesourinha Doru luteipes em condições com e sem infestação da broca-da-cana-de-açúcar, principal praga da cultura.
O trabalho com o fungo Metarhizium robertsii envolveu uma abordagem multidisciplinar que incluiu o cultivo do fungo e sua inoculação em plantas, seguido da infestação com pragas. Foram utilizadas análises químicas para quantificar os níveis de fitormônios e compostos orgânicos voláteis, além de bioensaios comportamentais para avaliar a preferência de ovoposição das pragas. Também foram conduzidos bioensaios para investigar a atratividade olfativa do parasitóide C. flavipes e do predador noturno D. luteipes, ambos inimigos naturais da broca-da-cana.
Para Pec, os resultados apontaram para uma estratégia ecologicamente correta, que pode reduzir a dependência do uso de inseticidas químicos, ao melhorar as defesas naturais da planta, tornando o controle biológico mais eficiente, potencializando a atratividade de inimigos naturais como a mosca C. flavipes para controlar a broca-da-cana; e contribuir para a sustentabilidade da cultura da cana-de-açúcar, ao oferecer uma abordagem de manejo de pragas de baixo impacto ambiental.
“Plantas inoculadas com o fungo apresentaram alterações significativas nos níveis de compostos secundários responsáveis pela defesa da planta contra pragas, como os ácidos jasmônico e salicílico, além de mudanças nas emissões de compostos voláteis tanto durante o dia quanto à noite”, explica o pesquisador. Nas plantas ainda não infestadas pela broca-da-cana, observamos uma redução na ovoposição da praga. Já nas infestadas, houve maior atração do parasitóide C. flavipes, indicando que o inimigo natural pode estar atuando de forma mais eficaz no controle da praga. Por outro lado, o predador noturno Doru luteipes – a tesourinha – não apresentou aumento de atração, mesmo com as alterações nos voláteis emitidos à noite.
O trabalho foi conduzido no Laboratório de Ecologia Química e Comportamento de Insetos, da Esalq/USP (Piracicaba, SP), sob coordenação do Prof. José Maurício Simões Bento, com o envolvimento do doutorando Marvin Mateo Pec Hernández e dos Drs. Paolo Salazar Mendoza, Diego Martins Magalhães e Kamila E. Xavier de Azevedo.
Esta é a primeira pesquisa sob nova nomenclatura do Projeto Construindo Ciência, antigo Projeto Tese Destaque. O trabalho é realizado em parceria com a Comissão de Pesquisa da Esalq.
Texto: Alicia Nascimento Aguiar | MTb 32531 | 01.07.2025