José Luiz Tejon falou sobre os desafios do agronegócio

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Palestra ocorreu no Salão Nobre (crédito: Gerhard Waller)

Como será 2056 e o que estaremos fazendo daqui a quatro décadas? Com esse questionamento o jornalista e publicitário José Luiz Tejon abriu a palestra “Agronegócio, Agrossociedade, inovação, integração, superação, os desafios do futuro”, evento que integrou o projeto Diálogos na ESALQ, ocorrido na tarde de 25/08, no Salão Nobre da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ).

Na plateia, estiveram professores, alunos de graduação e pós-graduação, além de servidores técnicos e administrativos, que acompanharam o palestrante por cerca de uma hora. Pouco antes, em entrevista aos jornalistas da Divisão de Comunicação da ESALQ e representantes da mídia local, Tejon conversou sobre os desafios do agronegócio. Confira trechos da entrevista.

É possível sintetizar os desafios do agronegócio?

Tejon: Não é fácil sintetizar. Veja, aqui na própria ESALQ, durante uma visita em alguns laboratórios, percebi que a soma das partes é maior que o todo. Uma conclusão que não é nova é que não há uma agricultura isolada, mas é preciso considerar cada elo da cadeia produtiva.

Os elos dessa cadeia estão conectados?

Tejon: A grande diferença hoje é que com o sistema de informação interativo, com o advento da internet e principalmente com esse modelo que inclui celulares, sensores, aplicativos, é possível que o cidadão leigo passe a ter um instrumento de diagnóstico de todos os efeitos sensoriais do leite, por exemplo, desde à qualidade de nutrição que foi dado ao milho presente na alimentação do gado. Essa revolução de sensores aproxima extraordinariamente o agronegócio.

Portanto a ciência e a tecnologia são fundamentais nesse processo?

Tejon: Temos a ciência e a tecnologia, a partir dos jovens e suas startups, das grandes corporações, fazendo grandes descobertas em uma velocidade muito grande.

O cidadão comum tem acompanhado essa revolução tecnológica?

Tejon: O cidadão urbano, consumidor do agronegócio, se não for educado, ele pode considerar a ciência como algo ‘Frankenstein’. A mudança ocorre quando o cidadão urbano começa a se alimentar de produtos provenientes da ciência. Provavelmente hoje uma semente de milho tem mais tecnologia do que um celular. Então é necessário educar constantemente esse cidadão. E sem a utilização da mídia não conseguiremos fazê-lo.

Quais são os passos para obter êxito nessa tarefa?

Tejon: É preciso levar os seres humanos que não se importariam com isso a mudarem de opinião. O grande desafio é como dialogamos com a grande massa da população, para um agronegócio que não está só dentro da porteira, nem estacionou na agroindústria, muito menos nos supermercados. É algo que vai para as mentes e percepções

Entra aí um novo perfil de consumidor?

Tejon: As pessoas passaram a consumir saúde, sensorialidade, bem-estar, natureza. Não se consome bebida ou comida, mas sim os derivados do ponto de vista das mentes humanas. É um jogo complexo, mas uma oportunidade gigantesca.

Um desses desafios é a aproximação entre universidades e empresas? Este desafio já está consolidado?

Tejon: A própria ESALQ tem na sua incubadora uma unidade voltada ao relacionamento com a pessoa jurídica, mas precisamos promover tudo isso. A humanidade consome mais jornal se a notícia for catastrófica, mas precisamos nos educar a dar boas notícias. Temos oportunidade de atrair empresas e universidades, mas está faltando sedução popular. O brasileiro é empreendedor, mas não tem ideia de que pode se aproximar de uma universidade como a ESALQ para se desenvolver com mais consistência. Todo jovem sonha com sua startup, mas falta um apelo empreendedor de qualidade. Eu recomendaria também que as grandes corporações, independente das suas matrizes, desenvolvesse fortes elos com as universidades brasileiras. Cito como exemplo aqui em Piracicaba, o AgtechValley, que tem tudo para dar certo. 

Texto: Caio Albuquerque (25/08/2016)