Como tornar a agricultura mais eficiente diante das mudanças climáticas
As limitações hídricas e as mudanças climáticas têm motivado a comunidade científica a compreender os fatores que influenciam o desempenho das culturas agrícolas em condições tropicais.
Com essa perspectiva, uma pesquisa desenvolvida no programa de Pós-graduação em Engenharia de Sistemas Agrícolas, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) analisou os impactos potenciais das mudanças climáticas futuras sobre a produtividade do milho no Brasil.
De autoria da engenheira ambiental Taís Souza dos Santos Dias, o estudo foi estruturado em três capítulos: o primeiro apresenta uma introdução geral aos temas abordados; o segundo investiga a combinação de métodos de estimativa da evapotranspiração e da evaporação do solo, utilizando o modelo CERES-Maize; e o terceiro analisa os impactos potenciais das mudanças climáticas futuras sobre a produtividade do milho tropical, também com base em simulações do CERES-Maize.
“O foco esteve na avaliação da evapotranspiração e do requerimento hídrico da cultura, bem como na análise dos impactos de cenários climáticos futuros sobre o cultivo do milho no Brasil”, aponta a pesquisadora.
O projeto foi desenvolvido em diferentes etapas. A primeira consistiu na construção do capítulo sobre evapotranspiração, que contou com a participação da aluna de Iniciação Científica FAPESP Lívia Betanho, responsável por apoiar na execução das análises. Na segunda etapa, relacionada ao capítulo sobre mudanças climáticas, houve também o apoio da aluna de IC FAPESP Isabelle Bonaldi. A orientação foi do professor Fabio Marin, do departamento de Engenharia de Biossistemas.
Segundo a pesquisadora, o estudo sobre evapotranspiração contribui diretamente para o uso mais eficiente da água na agricultura, oferecendo subsídios técnicos para a estimativa mais precisa da irrigação em cultivos de milho em ambientes tropicais. “Isso permite reduzir desperdícios hídricos, otimizar o manejo irrigado e apoiar políticas públicas voltadas à gestão racional dos recursos hídricos”, pondera.
Já o estudo sobre os impactos das mudanças climáticas fornece insights importantes sobre a adaptação da cultura do milho frente aos cenários futuros. Ao demonstrar que o ajuste de parâmetros relacionados ao somatório térmico pode alongar o ciclo da cultura, a pesquisa mostra que é possível manter a produtividade e reduzir riscos de perdas, tanto de produtividade de grãos quanto a produtividade da água”, complementa Taís Dias.
Resultados – A pesquisa apresentou dois resultados centrais que podem contribuir diretamente para o avanço da agricultura em diferentes condições climáticas.
No primeiro eixo, os pesquisadores identificaram quais métodos são mais precisos na estimativa da evapotranspiração — processo fundamental para entender o balanço hídrico das lavouras. Em ambientes tropicais, como Piracicaba (SP), a combinação do método Priestley-Taylor com o modelo de evaporação do solo em dois estágios, desenvolvido por Ritchie (1972), apresentou os melhores resultados quando comparada aos dados obtidos pelo método de Bowen. Já em regiões semiáridas, como Serra Talhada (PE), a maior precisão foi alcançada ao combinar o método Penman-Monteith FAO-56 (1998) com o modelo Sulaiman-Ritchie (2009), que leva em conta o fluxo ascendente de água no solo. O estudo reforça que escolher o método correto, de acordo com o clima local, é essencial para garantir diagnósticos mais precisos e eficientes da disponibilidade hídrica nas lavouras.
O segundo eixo do estudo traz uma boa notícia para o futuro da agricultura em meio às mudanças climáticas. Ao simular cenários com aumento de temperatura e maior concentração de CO₂, os pesquisadores mostraram que é possível adaptar o milho a essas novas condições. A estratégia consistiu em ajustar, no modelo CERES-Maize, os coeficientes genéticos ligados à soma térmica, prolongando o ciclo da cultura sem prejudicar suas fases de desenvolvimento. O resultado foi uma melhora significativa na produtividade de grãos, na eficiência do uso da água e na própria evapotranspiração. A conclusão é clara: investir em melhoramento genético pode ser uma saída viável e eficiente para mitigar os efeitos do aquecimento global sobre a produção agrícola.
O projeto contou com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES (88887.835204/2023-00), que concedeu a bolsa de mestrado que viabilizou a realização do trabalho. Contou ainda com aporte da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP, auxílios 2021/00720-0), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, processo 302597/2021-2) e do Center for Carbon Research in Tropical Agriculture (CCARBON), da Universidade de São Paulo.
Texto: Caio Albuquerque (30/06/2025)